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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

Foto e biografia: wikipedia 

 

 

WISLAWA SZYMBORSKA

 

 

Wisława Szymborska, Maria Wisława Anna Szymborska (Kórnik2 de julho de 1923 — Cracóvia1 de fevereiro de 2012) foi uma escritora polaca galardoada com o Prémio Nobel na área de literatura (1996). Poetisa, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia, onde se formou em Filologia Polaca e Sociologia pela Universidade Jaguellonica. A sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como «uma poesia que, com precisão irónica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana», tendo sido a poetisa definida, como «o Mozart da poesia»

 

GÁRGULA – Revista de Literatura. No. 1Brasília, 1997. [Instituto Camões. Impressão: Thesaurus Editora]  
Ex. bibl. Antonio Miranda


 

     Tradução de Antonio Carlos Osório,
a partir de um texto em inglês:

 

 

 

ESTOU DEMASIADO PERTO

Estou demasiado perto para ser sonhada por ele.
Sobre ele não vôo, não fujo dele
sob as raízes de uma árvore. Estou demasiado perto,
Não canta em minha voz o peixe na rede
dos meus dedos não deslize o anel.
Estou demasiado perto. Uma grande casa está incendiada
sem mim, pedindo socorro. Demasiado perto
para que badalem os sinos balançando em meus cabelos.
Demasiado perto para entrar como um convidado
diante do qual as paredes sozinhas se apartam.
Jamais de novo morrerei tão levemente
tão baixo de minha carne. Tão inadvertidamente

        Como já uma  vez em seu sonho. Demasiado perto;
Eu provo o som, eu vejo a casa fulgurante de sua palavra
quando imóvel jazo em seu abraço. Ele dorme,
mais acessível agora a ela,
bilheteira de circo ambulante com somente um leão,
dos que a mim, que estou ao lado dela.
Para ela agora nele floresce um vale
dobrado em mofo, fechado por uma montanha nevada
no azul escuro. Estou perto demais
para cair sobre ele do céu. Meu grito
poderia acordá-lo. Pobre coisa
sou eu, limitada por minha forma
eu que já fui bétula, eu que fui lagarta
que sairia de meus casulos
faiscando as cores de minha pela. Eu que possuía
a graça de desaparecer diante dos olhos espantados
o que é uma riqueza de riquezas. Estou perto
perto demais dele para que ele sonhe de mim.
Deslizo meu braço por baixo da cabeça dormente
e ele está entorpecido, cheio de enxameante alfinetes,
se no topo deles, esperando serem contados
sentam-se os anjos caídos.

 

 

Foi premiada com o Nobel de Literatura em 1996.

 

POESIA SEMPRE. Ano 15 Número 30 2008. Polônia. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 178 p. No. 10 381
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA


UTOPIA

Ilha na qual tudo se explica.

Aqui se pode pisar o chão das provas.

Não há outros caminhos a não ser o do acesso.

Os arbustos até se vergam ao peso das respostas.

Aqui cresce a árvore da Justa Suposição
Com os ramos há séculos desenhados.

Deslumbradamente simples a árvore do Entendimento
Ao pé da fonte que se chama Então é Isso.

Quanto mais na floresta, mais largamente se abre
O Vale da Evidência.

Qualquer dúvida, o vento a dissipa.

Sem apelo o eco toma a palavra
E de bom grado explica os mistérios dos mundos.

À dúvida a caverna onde jaz o sentido.

À esquerda a lagoa da Profunda Convicção.
Do fundo desprende-se a verdade, e vem levemente à
tona.

Domina o vale a Certeza Impassível
Do seu pico espalha-se a essência das coisas.

Apesar das suas seduções, a ilha está deserta
e pegadas miúdas visíveis nas margens
voltam-se em direção ao mar.

Como se daqui apenas se partisse
e seu retorno se mergulhasse na profundeza.

Na vida inconcebível.

Tradução HENRYK SIEWIERSKI e JOSÉ SANTIAGO NAUD
(Quatro poetas poloneses.
Curitiba: Secretaria de Estado
da Cultura, 1994).



Tortura

Nada mudou.
O corpo sente dor,
tem que comer, respirar, dormir,
a pele fina, o sangue sob a pele,
um bom estoque de dentes e unhas,
os ossos frágeis,
as juntas que se distendem.
Na tortura tudo isto conta.

Nada mudou.
O corpo trema como tremia
antes da fundação de Roma e depois,
no século vinte antes e depois de Cristo.
A tortura existe como existia, apenas o mundo ficou menor
e tudo que acontece, acontece como ali ao lado.

Nada mudou.
Apenas há mais gente.
Além das velhas acusações, surgem outras,
verdadeiras, imaginárias, efêmeras, ou nenhuma,
mas o grito com que o corpo responde
foi, é e será o grito da inocência
na mesma escala imemorial e no mesmo tom.

Nada mudou.
Talvez os costumes, as cerimônias, talvez as danças.
O gesto das mãos protegendo a cabeça ainda é o mesmo.
O corpo se contorce, se estica, luta,
derrubado cai, se dobra, roxo,
incha, baba e sangra.

Nada mudou.
Apenas a linha de fronteiras,
de florestas, costas, desertos e icebergues.
Nestas paisagens a alma perambula,
desaparece, volta, se aproxima e se distancia,
desconhecia de si mesma, esquiva.

às vezes certa, às vezes incerta da sua própria existência,
enquanto o corpo é e é e é,
e não tem para onde ir.

Tradução de ANA CRISTINA CESAR e GRABIK
(
Aproximações. Brasília/Lisboa/Cracóvia, n. 2, 1988.)

O terrorista, ele observa

A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.

O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
W, bom é como assistir a um filme.

Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam.
Treze e dezesseis e quatro segundos.
Aquela mais baixo, ele salvou-se, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.

Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos.

Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obesos, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas.

São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta.
É agora.
A bomba, ele explode.

Tradução de NELSON ASCHER (Poesia alheia:
124 poemas traduzidos.  Rio de Janeiro, Imago, 1998.)



Primeira foto de Hitler

E quem é essa gracinha de tip-top?
É o Adolfinho, filho do casal Hitler!
Será que vai se tornar um doutor em direito?
Ou um tenor de ópera de Viena?
De quem é essa mãozinha, essa orelhinha, esse olhinho,
esse narizinho?
De quem essa barriguinha cheia de leite, ainda não 
sabemos:
De um tipógrafo, padre, médico, mercador?
Quais caminhos percorrerão estas pernocas, quais?
Irão para o jardinzinho, a escola, o escritório, o casório
com a filha do burgomestre?

Anjinho, pimpolho, docinho de coco, raiozinho de sol,
quando chegou ao mundo um ano atrás,
não faltaram sinais na terra nem no céu:
gerânios na janela, um sol primaveril,
a música de um realejo no portão,
votos de bom augúrio envoltos em papel crepom rosa.
Pouco antes do parto, o sonho profético da mãe:
sonhar com uma pomba — sinal de boas novas,
se for pega — vem uma visita muito esperada.
Toc, toc, quem é, é o coraçãozinho do Adolfinho que bate.

Fralda, babador, chupeta, chocalho,
o menino, com a graça de Deus e bate na madeira, é sadio,
parecido com os pais, com um gatinho na cestinha,
com os bebês de todos os outros álbuns de família.
Não, não vai chorar agora,
o fotógrafo atrás do pano pretão vai fazer um clique.

Ateliê Klinger, Grabenstrasse Braunau,
e Braunau é uma cidade pequena, mas respeitada,
firmas sólidas, vizinhos honestos,
cheiro de massa de pão e de sabão cinzento.
Não se ouve o ladrar dos cães nem os passos do destino.
Um professor de história afrouxa o colarinho
e boceja sobre os caderno.

Tradução de REGINA PRZYBYCIEN (Oroboro, Curitiba, n. 4, jun./jul./ago. 2005)

                                             Fim e começo

Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.

Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.

Alguém tem que se afundar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensangüentados.

Alguém tem que erguer a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.

A cena não rende foto
e pode levar anos.
E todas as câmeras já debandaram
para outra guerra.

As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
de tanto arregaçá-las,
as mangas ficarão em farrapos.

Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao redor já rondam
os que acham tudo muito chato.

Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.

Os que sabem
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem,
ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.

Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém vai se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens.

Tradução de REGINA PRZYBYCIEN (Oroboro, Curitiba, n. 4, jun./jul./ago. 2005.)



A memória enfim

A memória enfim encontrou o que tanto procurava.
Minha mãe voltou, meu pai reapareceu.
Para eles sonhei uma mesa, duas cadeiras. Sentaram.
Eram de novo meus e de novo viviam para mim.
Seus rostos eram duas lâmpadas brilhando
no fim da tarde, como num Rembrandt.

Se agora posso contar
em quantos dos meus sonhos vagaram,
no meio de quantas multidões
os salvei do desastre,
quantas vezes desfaleceram
nos meus braços. Derrubados,
cresciam de novo, como árvores retorcidas.
O absurdo os levava à mascada.
Que importa que não podiam sentir dor fora de mim
se sentiam dentro de mim?
Uma turba imaginária assistia quando gritei mamãe
para aquilo que saltava guinchando entre os galhos.
E houve risadas porque meu pai tinha um laço nos
cabelos.
E recordava com vergonha.

E finalmente,
numa noite comum de sextas para sábado,
eles vieram tais como os queria.
Sonhei com eles mesmos e a nada mais.
No fundo do quadro todas as possibilidades se apagaram,
o acaso perdeu suas formas necessárias.
Só eles brilharam, belos, porque eram como eram.
Sonhei por muito tempo, muito tempo e feliz.

Acordei. Abri os olhos.
Toquei o mundo: mold         ura lavrada.

Tradução de ANA CRISTINA CÉSAR  GRAZNS DRABIK
(Aproximações.  Brasília/Lisboa/Cracóvia. N. 2, 1988.)



A mulher de Ló*

Dizem que olhei para trás por curiosidade.
Mas além da curiosidade eu poderia ter outros motivos.
Olhei para trás lamentando a perda da taça de prata.
Olhei para trás por descuido — quando amarra o cordão
da sandália.

  Ou par anão ver mais a justa nuca
do meu marido. Ló.
Com a certeza súbita de que se eu morresse
ele nem pararia.
Com a desobediência própria dos mansos.
Para ver se éramos seguidos.
Ou comovida pelo silêncio repentino,
com a esperança de que Deus tivesse mudado de ideia.
Nossas duas filhas já tinham desaparecido por trás da 

                                                                   colina.
Senti em mim a velhice. A distância.
A futilidade de vagar. O sono.
[...]
Olhei para trás por medo de dar um passo à frente.
No meu caminho apareciam cobras,
aranhas, ratos e filhotes de abutres.
Não era bom ou mau — simplesmente tudo que vivia
saltava ou se arrastava em pânico.
Olhei para trás por desolação,
por vergonha de fugir tão furtivamente,
por vontade de gritar, de voltar,
ou simplesmente porque o vento fustigou,
desfez o cabelo e arrancou o vestido,
e senti que me olhavam do alto dos muros de Sodoma
e irrompiam este riso sonoro uma vez, e outra.
[...]

* Nota dos antologistas – Os pontos que assinalamos no texto indicam versos originais falantes. São eles, respectivamente — em polonês  em versão nossa para o português — os seguintes: Obejrzalam sie kladac na  ziemi tobolek.” (“””Olhei para trás pondo a trouxa no chão.”) e “Obehrzalam sie z nasycic sie ich wielka zçguba.”  (“Olhei para trás por raiva./ Para me fartar de sua imensa ruína.”)
Cf. o original “Zona Lota”, em Wielka liezba.  Warszawa: Czytelnik, 1976.



  Olhei para trás por todas essas razões.
Olhei para trás sem ter razão.
Só porque uma pedra rolou sob os meus pés,
porque um fenda cortou de repente o meu caminho —
em sua borda vacilava um bicho,
e então os dois olhamos para trás.
Não, eu corri, girava, quase voava,
até que a escuridão caiu dos céus
cheia de enxofre quente e pássaros mortos.
Sem fôlego, me senti girar mais uma vez,
E outra, como se dançasse.
Talvez meus olhos estivessem abertos.
É possível que tenha caído
com o rosto virado em direção à cidade.

Tradução de ANA CRISTINA CÉSAR e RAZTBA DRABIK
(Aproximações, Brasília/Lisboa/Cracóvia, n. 2,1988.)



Retrato de mulher

Deve ser variável.
Mudar só para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil, vale tentar.
Seus olhos são, se for preciso, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, rasos d´água sem qualquer razão.
Dorme com ele como uma qualquer, a única no mundo.
Lhe dá quatro filhos, nenhum filho, um.
Ingênua, mas a que melhor aconselha.
Fraca, mas carrega os piores fardos.
Não tem cabeça, mas teima.
Lê Jaspers e revistas de mulher.
Não entende de parafusos, mas constrói uma ponte.
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Segura nas mãos um pardalzinho de asa partida,
seu próprio dinheiro para uma viagem longínqua,
um cutelo de carne, uma compressa, um cálice de vodca.
Corre para onde, não está cansada?
Claro que não, só um pouco, muito, não importa.
Ou ela o ama ou é teimosa.
Para o bem, para o mal e pra o que der e vier.

Tradução de REGINA PRZBYCIEN (Oroboro, Curitiba, n. 4,
jun./jul./ago. 2005.)



 Vietnam

Mulher, como você se chama? — Não sei.
Quando você nasceu, de onde você vem? — Não sei.
Pra que você cavou um buraco na terra? — Não sei.
Desde quando está aqui escondida? — Não sei.
Por que mordeu o meu dedo anular? — Não sei.
Não sabe que não vamos te fazer mal nenhum? —
Não sei.
De que lado você está? — Não sei.
É a guerra, você tem que escolher. — Não sei.
Tua aldeia ainda existe? — Não sei.
Esses são teus filhos? — São;

Tradução de REGINA PRZBYCIEN (Oroboro. Curitiba, n. 4, jun./jul. ago. 2005.)

 

 

 Autonomia

       Em perigo, a holotúria divide-se em duas:
uma delas se entrega à voracidade do mundo,
a outra lhe escapa.

Desagrega-se de repente em perdição e salvação,
em multa e prêmio, no que foi e o que será.

No meio do corpo da holotúria abre-se um abismo
com duas margens subitamente estranhas.

Numa a morte, noutra a vida.
Aqui desespero, alento ali.

Se houver uma balança, os pratos não oscilam.
Se houver justiça, aqui está.

Morrer quanto necessário, sem exceder a medida.
Crescer de novo quanto necessário a parte que se
salvou.

É verdade, também nós podemos nos dividir.
Mas apenas em corpo e suspiro cortado.
Em corpo e poesia.

De um lado a garganta, de outro o riso,
leve, rapidamente sumindo.

Aqui um coração pesado, ali
non omnis moriar,
  três palavras apenas como três penas aladas.

O abismo não nos separa.
O abismo nos circunda.

Página publicada em maio de 2025.

 

*

 

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 Página publicada em maio de 2021


 

 

 
 
 
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